Esse é um “PerCurso Experiencial” para com-versarmos e refletirmos sobre os modos de ser musicoterapeuta na atualidade.
Com-versar pode se dar de muitos modos: falas, escritas, escutas, diálogos, cantorias, leituras compartilhadas, experienciações, entre outros. Utilizaremos como “mapa” para trilharmos nosso percurso experiencial o ensaio “The Field of Play: Uma Ecologia do Ser na Musicoterapia”, da musicoterapeuta Carolyn Kenny.
Tal percurso é parte do projeto “MAPA DA ESCUTA MUSICOTERAPÊUTICA: Proposições, Provocações e ProvoCanções Existenciais para TransFormAções em Musicoterapia”, uma proposta de (trans)formação livre, continuada e existencial criada pela musicoterapeuta Priscila B. Mulin para que profissionais, estudantes, inspirantes e aspirantes de Musicoterapia possam perceber, refletir, imaginar, fomentar e criar modos significativos de habitar o campo da Musicoterapia.
O “MAPA DA ESCUTA MUSICOTERAPÊUTICA” é eixo de um projeto maior da autora, chamado de Mapa da Escuta, que se trata de uma proposta de Musicoterapia Existencial em que o mapeamento das Dimensões Musicais e Estéticas são colocadas em destaque como uma forma de revelar modos pelos quais tais dimensões nos ajudam a viver e sobreviver.
SOBRE A PROPOSITORA DO PERCURSO
Priscila B. Mulin, esta que aqui vos escreve, é bacharel em Musicoterapia (FMU – 2004), especialista em Psicologia Clínica Fenomenológica-Existencial e Existencialista (Nucafe – 2022) e em Dependência Química (UNIFESP – 2006). É mestre em Educação, Arte e História da Cultura (Mackenzie – 2015). Durante a minha trajetória profissional sempre trilhei o caminho duplo transversal da clínica e da docência e supervisão em Musicoterapia. Atuei como musicoterapeuta nas áreas de Saúde Mental, Educação, Promoção de Saúde, com diversas faixas etárias em contexto individual e grupal. Fui docente e supervisora de estágios da Graduação em Musicoterapia da FMU, onde atuei também como docente responsável pela Clínica-Escola de Musicoterapia e coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Musicoterapia Preventiva e Social entre os anos de 2008 e 2019. Lecionei em Especializações de Musicoterapia do Instituto Fênix, Censupeg, FMU, e também no Curso de Especialização em Saúde Integrativa do Hospital Albert Eisten. Atualmente dedico-me à Clínica Musicoterapêutica Existencial com Adultos, à Supervisão Musicoterapêutica e ao Desenvolvimento do Mapa da Escuta - uma proposta autoral que promove o Envolvimento e o Desenvolvimento da Dimensão Musical como forma de Conhecimento e Cuidado.
SOBRE A NOSSA PRINCIPAL INTERLOCUTORA
Carolyn Kenny foi uma musicoterapeuta norte-americana que viveu entre os anos de 1945 e 2017 e que produziu reflexões, proposições e escritos diversos sobre o campo teórico-prático da Musicoterapia. Ela foi pioneira nas pesquisas qualitativas no campo da Musicoterapia, e na utilização de perspectivas da área de humanidades como fundamentação teórica. Utilizou-se amplamente da atitude fenomenológica de descrição da experiência vivida como forma de produzir fundamentação teórica para o campo da Musicoterapia.
Para além das concepções éticas fundamentadas em um paradigma clínico biomédico e psicoterapêutico, ela enfatizou a construção transdisciplinar do campo da musicoterapia, acentuando a vocação estética (artística) e filosófica da profissão. Ela dizia que deveríamos levar em conta princípios éticos, estéticos, pessoais e culturais ao desenvolvermos nosso trabalho e os modos de descrevê-lo, posicionando a filosofia como aliada para a construção deste tipo de saber, sustentando que a teoria servia para pensar a prática, mas a filosofia deveria servir para pensar a teoria, questionando sempre por que estamos fazendo o que fazemos, e com base no que estamos justificando e fundamentando tais fazeres. Desenvolveu uma teoria geral da musicoterapia que denominou de “The Field of Play”.
Kenny era uma defensora da interligação entre diferentes áreas do conhecimento e de encontrar modos diversos da escrita tradicional acadêmica que fossem mais fiéis à experiência vivida. O desafio de descrever em palavras a experiência inefável das relações musicais e de encontrar modos de retratar a experiência da musicoterapia, a acompanhou por toda vida, aproximando teoria, prática e mundo da vida.
O artigo de Kenny que utilizaremos como o “mapa” para trilhar nosso percurso experiencial é considerado por Kenny como uma breve versão da sua história na musicoterapia, uma síntese e retomada do seu percurso na elaboração do seu “The Field of Play”, reconhecendo-o como uma “ecologia do ser na musicoterapia”. O artigo foi publicado no ano de 2014 no portal “Voices: A World Forum for Music Therapy”, um site que abriga trabalhos de musicoterapeutas do mundo todo e do qual Carolyn Kenny foi cofundadora e editora por muitos anos. Esse também foi o artigo que Kenny apresentou quando esteve no Brasil.
Kenny diz ter criado esse texto, que nos servirá de mapa do nosso percurso, em um estilo de escrita performática, dizendo que idealmente ela estaria transmitindo tais ensinamentos pela tradição oral, então ela estaria diante de nós e poderíamos ouvir o som da sua voz.
COMO COM-VERSAREMOS COM KENNY?
A proposição é adentrarmos a leitura do ensaio de Kenny como se ele fosse um Mapa, trilharemos esse percurso deixando que a voz e a história dela ressoe com a nossa.
Ao modo de Kenny, deixaremos que esse gesto de leitura se converta em uma experiência estética que se abra em um “The Field of Play”, onde as nossas belezas e histórias de vida se encontrem e se toquem em um campo musical, e neste gesto de abertura poderemos ser levados a um estado particular mais sensível de consciência em um ritual compartilhado de afetos que nos empodera, e nos conduz ao campo criativo, e assim podemos deixar aparecer na nossa partilha tudo aquilo que nos solicita a experiência de leitura: canções, devaneios, lembranças, imaginações, compreensões, questionamentos. Ou seja, o que se propõe é um intenso diálogo com as belezas, ideias, questionamentos e proposições de Kenny, não apenas para reproduzir seus ensinamentos, mas para a partir deles seguir tecendo o campo da musicoterapia nessa ecologia de ideias e de presenças musicais inspiradoras e salutares.
O convite não é para uma leitura nem analítica, nem explicativa, é uma leitura-escuta-partilha como experiência viva de contato – uma completa participação, é experiência de transcendência, de transformação, de ir além do que está posto, seguindo o fluxo do rio e tecendo o fio da vida, da escrita e da canção. É uma leitura-experiência, dialogada e criadora, que se converte em atos de escuta e escrita, de com-versações. Desse modo, as palavras e falas que se darão nos encontros, não serão simplesmente comentários, mas conversas – conversações, ou melhor, “com-versa-ações” - faladas, cantadas, escritas, escutadas como um diálogo, junto ao texto e a voz de Kenny que emerge da escrita. Lançaremos-nos à leitura de um modo aberto deixando que ela nos guie, nos inspire, nos leia.
Uma leitura não apenas nos influencia, ela nos solicita, de modo imediato nos sentimos reconhecidos ou não na experiência de leitura, ela nos desperta simpatias, ressonâncias, repercussões, recusas e estranhamentos. De qualquer modo, uma leitura nunca é uma experiência neutra e passiva, ao ler algo que nos identificamos parece que a leitura é que nos lê, e nos permite dialogar e compreender aquilo que já parecíamos saber, mas não encontrávamos as palavras ou o modo propício para dizer. E aqui, há que se destacar também a questão da musicalidade do texto – seus ritmos, andamentos, seu estilo – elementos essenciais para embarcarmos em uma leitura, e entrarmos na dança que ela nos convida a bailar, de forma livre ou coreografada, sendo conduzida ou conduzindo.
Assim, o texto de Kenny será um pré-texto que servirá como pretexto para nossa partilha, para dizer e articular não somente aquilo que o texto já diz, mas o que ele nos permite dizer, o texto torna-se uma experiência, uma ferramenta e um instrumento, um solo investigativo e produtor de linguagem, solicitando-nos tanto pela sua forma como pelo seu conteúdo. É na relação com o texto que o que precisa ser dito aparece, é uma articulação, sem a qual tais ideias poderiam não ter a felicidade e a facilidade de aparecer.
Textos e canções descrevem e articulam vivências e experiências. Quando escutamos, lemos, escrevemos, compomos ou interpretamos, somos nós articulando vivências e experiências. “Nós” aqui pode ser compreendido não apenas como um indicativo de “a gente junto”, mas também analogicamente e poeticamente como “enlaces” – laços – nós, o que se entrelaça na experiência de leitura?
Acredito que as possibilidades de enlaces que emergem desse relacionamento sejam muitas, podem beirar o infinito, a cada nova experiência, novas possibilidades de sentidos. O texto então tem o papel de suporte, de um solo investigativo, um articulador, um mapa que trilharemos. A proposta aqui é acompanhar os movimentos que aparecem da leitura do texto, colocando junto da voz-escrita de Kenny, a nossa leitura-voz fazendo soar a nossa experiência compartilhada de mundo, o que se faz em comum entre nós? No que divergimos, no que podemos ir além? Quais outros diálogos se abrem que podem nos ajudar a com-por a experiência que nos lançamos?
Nas diversas leituras realizadas previamente desse texto fui anotando a minha experiência junto ao texto, com-pondo e com-versando, trazendo para junto dele escuta de canções, reflexões, outras leituras, outras escritas, poesias. Tive vontade de compartilhar o que surgiu com outras pessoas, e escutá-las sobre suas próprias experiências, expandir a ecologia de ideias, numa proposição: a leitura e com-versação com um texto, junto de uma provocação: falar daquilo que nos solicita, e de algumas ProvoCançōes: escutas de canções que acompanham e se instalam no desdobrar da leitura. Podemos tratar leituras como escutas, e escutas como leituras. Agora é hora de convidar vocês para compartilharmos nossas experiências, lermos juntos, trocarmos experiências, contar dos movimentos que ele me permitiu realizar e convidá-los para partilharem os seus próprios movimentos e experiências. Este é um convite para aqueles que queiram se juntar a mim e a Kenny e tantos outres que perpassam essa leitura-escuta, contribuindo com as suas próprias experiências e movimentos. O que surgirá desta trilha? Saberemos juntes.
COMO E QUANDO
Os encontros desse PerCurso Experiencial se dão de modo processual em encontros semanais e podem pode ser realizado de modo individual ou em um grupo.
Para mais informações entre em contato pelo whats app 11 9 9613-3676 ou pelo e-mail mapadaescuta@gmail.com