Mapa da Escuta – Princípios e Proposições

MAPA DA ESCUTA - MUSICOTERAPIA EXISTENCIAL - PRISCILA B. MULIN


CONVITE POÉTICO

Abrir o contato com a música: 
EscutAR-TE no Mundo!

Movimentos, gestos, expressões, músicas, canções
ProvoCanções, ExperiênciAções, GrafAções

Com-Templar-te! Contemplando 
Sensibilizar-te! Sensibilizando 
sentindo, movendo, ouvindo

Acompanhar o Afetar
Pausar, Silenciar
Inspirar, Respirar
Escutar, experienciar

Cantar, cantando
Dançar, dançando
Tocar, tocando
Falar, falando
Filosofar, filosofando 
Poetar, poetando

MapeAR-TE! MapeANDO
Trilhando, descrevendo, desvelando, esculpindodesenhando, tecendo (sendo), moldando, bordando formas, movimentos, mapas, tramas e enlaces possíveis de habitar o território da existência.

InventAR-TE
Com-por a melhor forma de existir!

Priscila B. Mulin

Este é o Convite Poético para o Mapa da Escutaé um convite-experiência que se faz como trilha de abertura e caminho a percorrer! 

O Mapa da Escuta é uma proposição da musicoterapeuta Priscila B. Mulin de “Mapeamentos” de Envolvimentos e Desenvolvimentos da Dimensão Musical e Estética da Existência através de processos terapêuticos e percursos experienciais que abordam  relações diversas entre música e experiência humana, especialmente no que tange às relações existenciais e de cuidado.

O Mapa da Escuta não é um método fechado, é exatamente o contrário, apresenta-se como um campo aberto de investigação e experimentação, que é dinâmico e passível de abertura, como a música, a arte e a vida, estando constantemente em construção e transformação. Método aqui é caminho, trilha que se faz caminhando, escutando, cantando, falando, refletindo, ouvindo ...



 Proposições (pró-posições) que se colocam em movimento:
DAR-TE CONTA DA DIMENSÃO MUSICAL DA EXISTÊNCIA


Ao escutar e investigar a Dimensão Musical da Existência
pode-se criar um espaço de abertura para uma escuta atenciosa de si e do mundo, percebendo, compreendendo, articulando, criando movimentos e modos possíveis de habitar o território da existência.

Ao fazer tais movimentos - escutar, investigar, experienciar - podemos nos dar conta de como as vivências e experiências musicais nos ajudam a existir, nos trazem bem-estar, aconchego e por que não dizer saúde

Podemos ampliar a presença e o espaço das experiências e relações musicais no cotidiano, não como um hábito mecânico, mas como uma experiência significativa de afeto e cuidado.

Em direção a ambos: “conhecer e cuidar”, podemos ainda experimentar outros modos de experiências musicais e expressivas, abrindo-nos para o novo, ampliando e desenvolvendo simultaneamente as dimensões estéticas e existenciais.



A expressão Mapa da Escuta, além de um convite para “mapear” territórios singulares, relacionais e de cuidado a partir da escuta, poéticamente é também um acróstico-bússula que nos orienta na caminhada e aponta para elementos fundamentais que guiam o mapemento da escuta: Música, Arte, Poesia e Afeto. 


M = música | a = arte | p =poesia| a=afeto
Mapa: Trilhas de Escuta Existencial
Escuta: A dimensão da abertura


Da Música

Todo o percurso realizado no Mapa da Escuta remete-se a música - essa que é uma ação com presença constante na vida, seja ao considerarmos a história da humanidade ou a nossa história pessoal . Ela sempre esteve presente em todas as épocas, culturas e civilizações, sendo atribuídos a ela os mais diversos sentidos, papeis e funções

A ampla e constante presença da música na vida faz dela um excelente meio de investigação dos nossos modos de ser no mundo.  A música é humana, diversamente humana, uma possibilidade de organizar, sintetizar, expressar, expor, abordar, tratar possibilidades vivenciais e existenciais, uma série de verbos aqui são possíveis.

O “M” que se refere à Música na sigla “Mapa” é grafado em maiúsculo, pois ela, a Música, é a base de tudo! A dimensão sonora é a primeira que nos coloca em contato com o mundo lá fora (já estamos ouvindo dentro do útero) e a última que se perde (hoje já sabemos que pessoas idosas com demência podem manter a memória musical intacta, e também que na hora da nossa morte o aparelho auditivo é um dos últimos a se desligar) A música é um importante elo de formação, manutenção e transformação de identidade e de relacionamento conosco mesmo, com as pessoas ao redor e com o mundo.

Além disso, somos seres musicais! De ritmo, de tons, de movimentos, de timbres, de pausas, de intensidades ...  nos expressamos e nos comunicamos através de silêncios e sons. A musicalidade se faz presente em toda parte e todas as situações: nos encontros, em nossa forma de se expressar e de se dirigir ao outro, na poesia, nas artes, sempre há componentes musicais, qualquer ação humana pode ser “escutada” musicalmente. A música é uma metáfora da vida. Podemos considerar nossos movimentos existenciais como músicas que produzimos no mundo!

A letra M refere-se também a “movimento”, que é um aspecto importante para se considerar a experiência musical, a música é movimento sonoro que se propaga no ar nos envolvendo  em movimentos diversos de sentido - corporais, imaginativos, afetivos, analíticos, rememorativos, e tantos outros - há uma infinidade de movimentos que aparecem na escuta.

As demais letras que constituem a palavra "Mapa" - "a", "p" e "a", significam respectivamente "arte", "poesia" e "afeto", e são os fios condutores que tecem a abordagem da Música no Mapa da Escuta.  


Da Arte

A arte é sempre levada em conta no Mapa da Escuta, pois ela é uma possibilidade de explorar, expressar, acentuar, amplificar movimentos da condição humana, além de conferir beleza e sentidos múltiplos e abertos à existência. 

A arte nos impacta, nos toca, nos permite ver o mundo de outras maneiras, é a dimensão da beleza, do mistério, dos múltiplos sentidos e significados, da criação. É um meio de ampliar e amplificar consciências e percepções, de quebrar paradigmas. A arte favorece o ato de criar e de empatizar.  A arte é uma experiência humana! 

O artístico é aqui concebido como abertura, possibilidade de criação e de desenvolvimento, e não como uma linguagem a ser desenvolvida e praticada de uma maneira técnica e específica. 

Arte como um processo de Criar-Se(r), Envolver-Se(r), Desenvolver-Se(r), Tornar-Se(r), Conhecer-Se(r)! 

Arte como possibilidades de cuidar de questões existenciais, como co-respondência a existência, expressão de como e somos, fomos e seremos, que se transforma a cada momento. A proposta feita por Nietzsche de fazer da vida uma obra de arte é bem-vinda aqui. 

É esse cuidado que o Mapa da Escuta propõe: tratar a existência como arte, como música, como poesia, como um processo que se cria, se transforma, que afeta revelando beleza e sentido, um convite musical para: AfetAr-te! CuidAr-te, TornAr-Te, CriAr-te


Da Poesia

A poesia é um modo de estar no mundo. 
Pode-se habitar o mundo de uma maneira poética! 

Poesia no Mapa da Escuta faz alusão ao “estado poético” de ser, de sentir, de atribuir beleza e sentido à existência. Uma escuta atenta e sensível à vida, em que palavras, gestos, sonoridades se enlaçam a movimentos vitais, a coisas e situações do mundo

Poético pode ser compreendido também como criação de uma maneira mais geral, ligada à estética e à arte, e não somente a uma modalidade artística que utiliza palavras como material de sua expressão. 

No que tange ao mundo das palavras como arte, como expressão, a poesia abre para nós o campo das palavras escritas, recitadas, faladas e também cantadas. No contexto do Mapa da Escuta, a canção é considerada poesia, com suas  palavras de som, de sentido, a canção como a "musa da música" é participante mais do que especial do Mapa da Escuta, canções como provocações existenciais - ProvoCanções Existenciais -  experimentar, evidenciar e afirmar a presença e a importância da Dimensão Musical na Existência!

As canções em sua manifestação poética-verbal trata das coisas do mundo a partir de nomeações, porém não de um modo racional analítico e explicativo, mas em um enlace descritivo sensível com os sons e situações, nos fazendo sentir como as coisas são. Trabalhamos nesses enlaces entre palavras, sons e vivências que nunca estão separados, mas sempre juntos na percepção, na experiência, na expressão, na existência. 

Leva-se em conta também o movimento poético que compõe as narrativas, as experiências, as vivências e as situações. As imagens poéticas que constituem as experiências vividas.


Do Afeto 

O afeto é a dimensão do sensível, do pré-reflexivo, daquilo que nos toca, a dimensão das emoções, das relações, do encontro, do cuidadoEle está na base das experiências vividas.  Os afetos são aqueles que nos mobilizam,  nos tocam, nos impactam, antes de qualquer compreensão ou significação.
 
 O afeto está presente em toda forma de cuidar, seja de si mesmo, do outro ou do mundo. 
E há também a afetividade que se dá no acolher, na escuta sensível, generosa e atenciosa. Essa amplia e amplifica a potência das experiências vivenciadas.


Música, arte, poesia e afeto se entrelaçam criando um todo indivisível que direciona o “mapeamento” da Escuta.



Da Escuta, da Experiência e do Encontro

A Escuta é um movimento de abertura, de expansão, de ampliação das percepções, de exploração que rompe supostas dicotomias entre o mundo interior e o mundo exterior. Escutar é perceber. Perceber é sentir. Sentir, tornar-se consciente, mas não exclusivamente através do intelecto, somos seres sensórios, simbólicos, seres de sensibilidade, vamos vivendo e ao mesmo tempo aprendendo e compreendendo os nossos movimentos existenciais no mundo.

A palavra Escuta é escrita com "E" maiúsculo, não apenas porque ela é central na proposta, mas o "E" aqui também remete a duas outras importantes palavras para o Mapa da Escuta, são elas: Encontro e Experiência.

Somos seres no mundo, sempre em relação e não apenas um indivíduo, somos com-postos de muitas escutas e impressões. Somos seres sociais, sempre “carregamos” com a gente outros seres. Eles nos solicitam, nos sustentam, nos acompanham, nos dão referência para compreensão existencial. Somos seres do Encontro!   Na experiência musical sempre há um encontro entre um eu e um outro ou muitos outros, ela nunca é uma experiência apenas individual, apesar de poder ser extremamente íntima e subjetiva, ela nunca está desconectada do mundo, podendo ser a um só tempo, individual e coletiva, assim está sempre em relação, e pode ser compreendida a partir de uma perspectiva ecológica de existência.

A experiência musical é relacional em muitos sentidos: abre-se sempre em um campo de relações e relacionamentos: com a própria linguagem da música, consigo mesmo, com outras pessoas, com as coisas do mundo, as possibilidades relacionais são muitas. 

Utilizamos a experiência musical e a investigação dessa dimensão na existência como um modo de dar-te conta de si, de cuidar-te, conhecer-te (ser-te), no entanto, cuidar de si e conhecer a si, é sempre relação, a subjetividade considerada como um aspecto central em processos terapêuticos, educativos e artísticos é levada em conta aqui na medida que o conhecimento do outro, do mundo e de qualquer outra coisa se dá numa experiência pessoal, nada é possível se conhecer que não seja através de si mesmo, da própria experiência, que no entanto, é de algum modo sempre intersubjetiva. Acompanhamos como soa e ressoa a experiência da pessoa (per-sona) na existência.

Somos também seres de possibilidades, não somos apenas o que já fomos, somos também nossas possibilidades, o que imaginamos, o que intuímos, o que pensamos, o que criamos para nós mesmos, o que experienciamos. Somos seres da Experiência!

Experiência pode ser compreendida de diversas formas, mas duas aqui são suficientes: (1) experiência como um conjunto de vivências que nos compõe e (2) a experiência, como algo significativo, que nos acontece e revela sentido. Experiência não é informação, ela não é simplesmente conteúdo ingerido de forma mecânica sem reflexão. Experiência é algo que faz sentido, como diz o educador Jorge Larrosa Bondía em seu inspiradíssimo ensaio intitulado “Notas sobre a experiência e o saber de experiência” "a experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que acontece, ou o que toca.”

E aqui retornamos para integrar nossos três "E"s - Escuta, Encontro e Experiência. Encontros com hora marcada para Experienciar a Escuta, e assim, o Mapa da Escuta convida para encontros com proposições diversas para experienciar, investigar, amplificar e expandir a Dimensão Musical, e consequentemente nossos movimentos existenciais, para nos conhecermos (e também nos desconhecermos) mais e melhor, para nos envolvermos e nos desenvolvermos em relações intrapessoais, interpessoais e ecológicas, gerando  movimentos de transformações em nossas vidas

 
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